Em meio a boom das commodities, Brasil tem potencial para produzir mais fertilizantes

Estudo mostra que consumo de fertilizantes potássicos triplicou no Brasil

O Brasil é o quarto maior consumidor mundial de fertilizantes, mas depende da importação de um dos principais componentes desse insumo agrícola: o potássio. Entre 1998 e 2018, o consumo aparente de fertilizantes potássicos quase triplicou, enquanto a produção de cloreto de potássio diminuiu no país. Um novo artigo publicado no Journal of the Geological Survey of Brazil (JGSB), periódico científico do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM), faz um diagnóstico estratégico dessa indústria.

Os autores do artigo Pedro Farias, Estevão Freire e Armando da Cunha, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Adelaide de Souza Antunes, do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) alegam que a produção brasileira de fertilizantes potássicos é frágil em relação à demanda gerada pela agricultura nacional. Com apenas uma unidade produtiva em operação localizada na região Nordeste, o Brasil importa mais de 96% dos insumos potássicos consumidos.

Gráfico mostra disparidade entre produção e consumo de cloreto de potássio. Fonte ANDA

Mesmo sendo a única zona do Brasil que produz cloreto de potássio, as regiões norte e nordeste apresentaram déficit de 654.907 toneladas de K2O em 2018. Da quantidade entregue nas regiões (consumo aparente), 95,4% é formulada na própria região. Os pesquisadores defendem que, caso a produção de potássio fosse ampliada nesta área do país, ela poderia ser absorvida no próprio mercado agrícola regional.

A boa notícia é que o Serviço Geológico do Brasil recentemente identificou novas ocorrências de potássio na Bacia do Amazonas, nos estados do Amazonas e Pará, onde uma área de 500 mil quilômetros quadrados apresenta grande potencialidade para o mineral e precisa ser prospectada. A área é semelhante à região de Urais, na Rússia, e de Saskatchewan, no Canadá, maiores exportadores do mundo. A descoberta posiciona a Bacia do Amazonas como área estratégica para abrigar depósito de classe mundial.

Os geólogos afirmaram a existência de depósitos em Nova Olinda do Norte, Autazes e Itacoatiara, com reservas em torno de 3,2 bilhões de toneladas de minério, além de ocorrências em Silves, São Sebastião do Uatumã, Itapiranga, Faro, Nhamundá e Juruti. Na região de Autazes, o potássio pode ser encontrado a profundidades entre 650m a 850m, com teor de 30,7% KCl. Em Nova Olinda, a profundidade varia em torno de 980m e até 1200m, com teor médio de 32,59% KCl.

No ano passado, em meio à pandemia, o Produto Interno Bruto (PIB) do setor agrícola cresceu 2%. Segundo estimativas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (USP), o agribusiness poderá responder por mais de 30% do PIB em 2021. Mas o resultado do setor na balança comercial do país seria bem mais favorável se a dependência de insumos importados para a produção de fertilizantes diminuísse. E o país já enxerga uma tendência de crescimento das commodities agrícolas, influenciado pela retomada da economia da China e por gastos dos governos com programas de recuperação após a crise causada pela Covid-19. O cenário torna estratégicos os projetos de pesquisa voltados para os agrominerais.

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