Por Fabrício Orrigo, diretor de produtos para Agro da TOTVS
O ano de 2024 foi marcado por grandes desafios no agronegócio brasileiro. O setor segue como um dos pilares da economia nacional, representando uma parcela importante do PIB, com previsão para encerrar o ano em 21,8% – segundo o Cepea/CNA. No entanto, este ano o setor precisou mostrar, mais uma vez, muita resiliência, já que enfrentou desafios climáticos intensos e extremos, com enchentes e queimadas afetando severamente a produtividade do campo.
Esse contexto reforça ainda mais a importância de investimento em tecnologia para minimizar ao máximo os impactos negativos e, ao mesmo tempo, potencializar a eficiência no agro. O futuro, necessariamente, passa pela aplicação e bom uso de soluções avançadas.
IA Preditiva
A inteligência artificial continua em pauta no agronegócio, com intensos debates sobre seu potencial, que ainda não é totalmente explorado. Para 2025, acredito no crescente uso da IA para análise de dados e, também, no viés preditivo, para planejamento estratégico, aproveitando sua capacidade de prever padrões climáticos, otimizar colheitas e gerenciar recursos. Um ponto que merece destaque é que o uso de IA aliada a uma gestão data driven, ou seja, baseada em dados, aumenta ainda mais a competitividade dos negócios. O ganho em eficiência operacional é notável.
Mudanças e impactos climáticos
Os efeitos climáticos que vimos e sentimos em 2024, e que impactaram de maneira significativa todo o agronegócio, reforçam a importância de investir em tecnologias para acompanhamento, previsões, e insights sobre o clima; em paralelo, mostram a necessidade de investimento no avanço da biotecnologia. Enquanto equipamentos e sistemas avançados podem ajudar a prever condições adversas, a modificação genética de sementes pode aumentar a resiliência das culturas. A adaptação a essas mudanças é vital para garantir a segurança alimentar e a continuidade das operações agrícolas – ainda que as mudanças genéticas nas sementes sejam processos morosos de desenvolvimento e aprimoramento.
Vale reforçar que investimentos mais tradicionais em tecnologia também são fundamentais para combater os impactos das mudanças climáticas. Um ERP vocacionado promove uma gestão mais inteligente e eficiente do negócio, com dados que ajudam também a minimizar os efeitos de eventos extremos.
ESG e Sustentabilidade
A pressão e, sobretudo, a necessidade de adoção de práticas sustentáveis segue crescente e o investimento na agenda ESG (Ambiental, Social e Governança) no agro hoje é imperativo. Ferramentas para rastreabilidade, certificação e compensação de carbono em toda a cadeia são fundamentais para atender às demandas do mercado atual e futuro, assim como aos consumidores conscientes que exigem essa responsabilidade.
Apesar do debate intenso, vejo que ainda há certa dificuldade dos produtores em relação a como avançar nesta agenda, mas o uso de plataformas e ferramentas digitais ajuda a descomplicar o processo e agregar valor aos produtos no mercado externo. Não podemos mais esperar para agir.
Integração de sistemas
Posso dizer com segurança que é nítido o avanço tecnológico no campo nas últimas décadas, mas ainda há um desafio bastante comum: a integração de sistemas. Os produtores investem em diferentes ferramentas que, muitas vezes, não são configuradas para conversar entre si mas que, bem integradas, são peça chave para melhorar a performance e a produtividade da operação. Soluções integradas permitem uma visão holística de toda a cadeia produtiva, facilitando tomadas de decisões eficientes, com base em informação de qualidade e em tempo real.
IoT, sensores e drones
A Internet das Coisas (IoT), juntamente com sensores avançados e drones, promete transformar a forma como os dados são coletados e utilizados no campo. É verdade que os grandes produtores ainda têm maior capacidade de adesão, porém essas tecnologias se tornam cada vez mais acessíveis e poderosas para o futuro do setor, já que permitem monitoramento em tempo real, possibilitando uma gestão mais precisa de recursos e o aumento da produtividade.
Necessidade de mão de obra especializada
Mesmo com tantos avanços da digitalização, um componente não pode ficar de fora da equação: pessoas. De nada adianta investir em soluções, se ninguém souber operá-las e extrair o máximo de seu potencial. Com a evolução das ferramentas tecnológicas, cresce junto a demanda por profissionais capazes de interpretar os dados coletados e utilizar softwares especializados. E um desafio para o próximo ano continua sendo a escassez de mão-de-obra qualificada em tecnologia aplicada ao campo. Para diminuir este gap, é interessante que os produtores invistam em treinamentos para capacitar suas equipes atuais e a próxima geração de trabalhadores do agronegócio.
O IPT (Índice de Produtividade Tecnológica) do Agro, pesquisa realizada pela TOTVS em parceria com a h2r Insights & Trends, comprova que o componente “pessoas” é um diferencial importante para a melhor internalização dos sistemas na operação e na estratégia das empresas. Segundo o estudo, a internalização dos sistemas pode ser avaliada considerando 3 componentes: pessoas, integração e potencial. Entre as empresas entrevistadas que conseguiram a combinação dos 3 fatores, o desempenho no índice é de 0,67 – em uma escala de 0 a 1 –, enquanto a média geral é de 0,58. Além disso, a pesquisa mostra que o peso dos atributos relativos às pessoas (capacitação e time orientador) é de quase metade do modelo estatístico (49%), o que reforça o quanto focar nos funcionários, durante e após a implementação, é essencial para alcançar uma melhor produtividade tecnológica.
Em 2025 seguimos atentos à importância da inovação contínua e da adaptação às mudanças climáticas e de mercado. Tudo isso, em meio a um cenário incerto e cheio de desafios e oportunidades – assim como todo novo ano. Mas com investimentos estratégicos e foco na sustentabilidade do negócio a longo prazo, o setor pode continuar a prosperar e seguir suportando a economia nacional.
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