Por Paulo Cunha, diretor geral para o setor público da AWS Brasil
As condições naturais do Brasil sempre foram propícias ao agronegócio, com amplo e fértil território, água doce e muita luminosidade. Mas outros fatores relevantes foram imprescindíveis para que o país se tornasse a potência global que é hoje, com destaque para a ciência e a tecnologia.
Embora a maior parte dos alimentos consumidos no país venha de pequenas propriedades, o acesso à tecnologia ficou, até pouco tempo atrás, restrito aos grandes produtores, com recursos disponíveis para investir em máquinas, sensores, satélites e softwares. Mas as Agtechs, as startups de tecnologia agrícola, estão ajudando a mudar esse jogo.
O Radar Agtech de 2023, coordenado pela Embrapa, mostra que os investimentos nessas empresas seguem tendência de alta nos últimos cinco anos. O estudo identificou 1.953 Agtechs ativas no país, um aumento de 14,7% em relação ao período anterior. As startups listadas oferecem soluções variadas para todas as etapas de produção e comercialização dos produtos: análise laboratorial, genômica, crédito rural, marketplace, gestão, internet das coisas, sensoriamento remoto, logística, bioenergia e rastreamento de alimentos, entre outros.
Uma das tecnologias que suportam as soluções criadas pelas startups é a computação em nuvem. No setor agrícola, as pequenas e médias empresas de base tecnológica que utilizam a nuvem ajudam a resolver problemas e a implementar práticas baseadas em dados, tornando o segmento mais inteligente e sustentável. O relatório “Compreendendo uma economia habilitada pela nuvem: Como a nuvem impulsiona o impacto econômico e social através de micro, pequenas e médias empresas (MPMEs)”, realizado pela Amazon Web Services (AWS) em conjunto com a Accenture, estima que as MPMEs podem ajudar a liberar R$7 bilhões em benefícios anuais de produtividade na agricultura. Uma em cada três fazendas usarão soluções de agricultura de precisão que aumentarão a produtividade até 2030. Isso representa um aumento de 170%, considerando a utilização atual de uma em cada dez fazendas.
Há muitas novidades no horizonte. A Agtech Sol, por exemplo, deve lançar em 2024 uma plataforma de gerenciamento de dados na nuvem que usará inteligência artificial (IA) para reduzir perdas e aumentar a produtividade no campo, apoiando o produtor para que tome decisões mais assertivas.
Um exemplo do que a tecnologia é capaz de fazer vem do Grupo Tereos, um dos líderes nos mercados de açúcar, álcool/etanol e amidos. Em 2021, a empresa realizou a migração de grande parte de sua infraestrutura digital para a nuvem, com o objetivo de possibilitar o cruzamento de diferentes dados estruturados como de operações, máquinas, mapas de solo, plantio e colheita com outros não estruturados, como imagens de VANT (Veículos Aéreos Não Tripulados) e de satélites. Todas essas informações são coletadas e unificadas em um único lugar, o que facilita a visualização e o planejamento otimizado das safras.
Outra tecnologia adotada pelo grupo foi a IA para a detecção de plantas daninhas no canavial. Drones capturaram uma média de 30 mil imagens a cada 100 hectares plantados, que foram armazenadas na nuvem e processadas em uma rede neural. A empresa usou as fotos para ensinar o sistema a identificar as pragas e avisar quando é preciso agir para evitar uma infestação.
A tecnologia deixou de ser considerada um gasto há muito tempo; os produtores brasileiros já constataram que se trata de um investimento com resultados tangíveis. Agora, com o crescimento do ecossistema de startups do setor, tornando a tecnologia mais acessível, temos potencial de não somente manter o Brasil na posição de liderança na produção de alimentos, como também de nos destacar em inovação e sustentabilidade.