Mentora aponta processo eficiente para consolidar propósito e valores desde o primeiro funcionário, ação tão estratégica quanto conquistar captar recursos e conquistar clientes
Um estudo da Gallup aponta que empresas com equipes altamente engajadas apresentam até 21% mais lucratividade e 17% mais produtividade, reforçando que cultura organizacional não é apenas discurso, mas fator estratégico para resultados de longo prazo. Para Marilucia Silva Pertile, cofundadora da Start Growth e mentora de startups SaaS, a formação dessa cultura começa já na primeira contratação.
“Os empreendedores falam muito de captação e vendas, mas esquecem que cultura também é estratégia. A forma como se escolhe e se integra a primeira pessoa define a lógica das próximas dez, cem ou mil contratações”, afirma a mentora.
O tema foi discutido no Start Growth Talks, podcast da aceleradora que aborda gestão, inovação e investimentos. Em um dos episódios desta segunda temporada, Reginaldo Stocco, CEO da VHSYS, reforçou a tese ao relatar a experiência da empresa. “Na VHSYS, a primeira contratação priorizou valores mais do que currículo. O maior erro é buscar apenas técnica, ignorando que um talento desalinhado pode comprometer toda a cultura. Investidores querem ver times coesos, e não apenas números. Um manual ajuda, mas é a liderança que dá o exemplo. Para nós, a cultura foi decisiva para reter talentos e atravessar crises com o time engajado”, disse Stocco.
Para a cofundadora da Start Growth, a cultura tem efeito multiplicador à medida que a empresa se expande. “Cada nova contratação funciona como um espelho da primeira. Se os valores não estiverem claros desde o início, a cultura se perde e a startup passa a correr atrás do prejuízo”.
Desafios
O cenário é reforçado por levantamentos da CB Insights, que mostram que 23% das startups fecham as portas por problemas de equipe ou conflitos entre fundadores, enquanto 38% encerram por falhas no controle de caixa e 35% pela falta de demanda de mercado. No Brasil, a Abstartups aponta que os principais desafios enfrentados pelos empreendedores estão ligados à formação de times, gestão de talentos e clareza de propósito, fatores que impactam diretamente a taxa de sobrevivência das empresas emergentes.
“A consolidação de um propósito claro é tão relevante quanto indicadores financeiros, pois influencia diretamente na retenção de talentos, no engajamento e na produtividade”, ressalta Marilucia. Segundo ela, os empresários devem seguir cinco etapas para estabelecer a cultura organizacional:
- Defina valores claros e comunicáveis antes da primeira contratação.
- Escolha pessoas que compartilhem do propósito, não apenas da função.
- Estabeleça rituais simples de cultura (reuniões semanais, feedback estruturado).
- Documente práticas e comportamentos esperados desde cedo.
- Revise constantemente se as ações do time refletem os princípios da empresa.
Para encerrar, a especialista reforça que a cultura não é um detalhe, mas um ativo estratégico. “O mercado muda, a tecnologia evolui e o capital pode oscilar. O que mantém a startup de pé é a clareza de propósito e o comprometimento das pessoas com esse propósito. Cultura é o que garante consistência mesmo em cenários de incerteza”.
Os episódios do Start Growth Talks estão disponíveis gratuitamente nas principais plataformas de streaming, como Spotify, Apple Podcasts e YouTube. A nova temporada do podcast, iniciativa da aceleradora Start Growth, combina entrevistas e debates sobre inovação, investimentos e gestão de negócios. A proposta é mostrar, por meio de casos práticos, como empreendedores e investidores constroem empresas resilientes em um mercado de alta concorrência.