Por Dane Avanzi
As vésperas do leilão da faixa de 700 mhz, a Copa do Mundo está expondo as mazelas e improvisações do sistema de telefonia móvel brasileiro. Segundo informações do SinditeleBrasil, 74% do tráfego de dados utilizados na abertura da Copa foi suportado pela rede 3G, e apenas um quarto das comunicações trafegou pela rede 4G.
Tal fato não é novidade para quem utiliza o serviço de dados nas grandes cidades, que ainda possuem poucas torres de suporte ao serviço 4G, e, na prática, conta mesmo com a rede 3G para mandar e-mails, acessar a internet – mesmo com o congestionamento e indisponibilidade em horários de pico.
Tal sorte não tiveram os expectadores que foram ao estádio da Ponte Preta, em Campinas, São Paulo, no dia 12 para assistir ao treino da seleção de Portugal. Segundo informações do Correio Popular, a rede 3G, que atende ao estádio teve momentos de congestionamento intenso e em alguns momentos, indisponibilidade.
A diferença entre os estádios comuns das cidades onde as seleções estão treinando para as arenas da Copa, é justamente a infraestrutura de fibra ótica e quantidade de antenas, que interligam a arena à diversas outras torres no entorno do estádio para vazão das demandas de tráfego de voz e dados.
Em suma, sem a rede 3G não existe telefonia móvel no Brasil, nem dentro nem fora dos estádios. Essa deficiência, segundo Maurício Fernandes, chefe da área de análise de investimento do Bank of America Merrill Lynch, inviabiliza o retorno sobre o investimento de uma rede construída do zero por um novo “player” no mercado de telefonia móvel brasileiro.
O Ministro Paulo Bernardo declarou recentemente que a banda larga móvel ainda tem muito espaço para crescer no Brasil e, além disso, no leilão de 700 MHz não haverá metas de cobertura, assim o operador poderá escolher as áreas em que irá atuar.
Tal anúncio, se por um lado incentiva novos players a concorrerem no leilão que deve ocorrer em agosto, por outro, não estimula a oferta de serviços de qualidade para as populações fora dos grandes centros, em especial para as regiões rurais, que necessitam de maciços investimentos em infraestrutura para desenvolvimento de importantes setores da indústria do agronegócio.
Embora seja salutar para o ambiente de competição novos players nos grandes centros, para as áreas rurais tal política não surtirá efeitos positivos, haja vista a oferta de serviços ser precária e em muitos casos apenas com serviços de voz, sem redes de dados em banda larga 3G.
Eis porque a Copa do Mundo, evento assistido por quase um terço da população do planeta, mais de 2 bilhões de pessoas, traz a tona a realidade nua e crua do Brasil, não somente no âmbito das telecomunicações.
Dane Avanzi é vice-presidente da Aerbras, diretor superintendente do Instituto Avanzi, advogado especializado em telecomunicação e autor dos livros “Radiocomunicação digital: sinergia e produtividade” e “Como gerenciar projetos”.