Três hipóteses sobre a retomada do crescimento econômico

Por André Galhardo

A atual conjuntura tem gerado preocupações em todo o mundo, tanto para governos, quanto para empresas e trabalhadores. A quarentena, como já foi amplamente noticiado, se fez necessária para evitar o colapso dos sistemas de saúde (públicos e privados).

Contudo, uma das consequências imediatas é a chamada “segunda onda”, ou seja, o aprofundamento econômico da crise. Atualmente, empresas e governos têm buscado caminhos para evitar um colapso maior do sistema econômico. Mas, pelo que os dados nos mostram, os esforços ainda precisam ser maiores.

No início do mês (02/04), dados do Bureau of Labor Statistics (BLS) dos EUA mostraram um aumento vertiginoso dos pedidos de seguro desemprego no país. Tratam-se de mais de 6 milhões de pedidos. O número mais alto desde o início da série histórica, na década de 1960.

As empresas mais afetadas até o momento estão no setor de serviços. Voos interrompidos, cinemas fechados, campeonato de futebol suspenso e shoppings vazios são um reflexo dessa crise.

E não podemos esquecer das fábricas. O setor industrial conseguiu resistir, mas desde o final de março já começou a dar sinais de esgotamento – especialmente puxados pela queda no varejo, como eletrodomésticos, carros etc. A maior dúvida no momento, contudo, é justamente quais setores devem indicar a retomada. E, sob nossa perspectiva, cabem três hipóteses.

Em primeiro lugar, há um consenso sobre alguns setores cuja demanda cresceu fortemente na crise e devem manter a demanda alta na segunda onda em diante. Dentre esses setores, podemos apontar ensino à distância, entretenimento online, ferramentas para trabalho remoto, planos de saúde, dentre outros.

Portanto, a retomada deve ter início no setor de serviços. E isso abre caminho para uma segunda hipótese. Com o intenso uso de tecnologias da informação e comunicação nesta conjuntura – características desta revolução tecnológica, conceito cunhado por Chris Freeman e Carlota Pérez -, esse deve ser o momento no qual tais empresas vivenciarão um crescimento significativo, gerando emprego e renda.

A terceira hipótese, alinhada com o início da próxima revolução tecnológica, aponta para o crescimento dos setores ligados à biotecnologia e tecnologias verdes. Nesse contexto de pandemia do coronavírus, não podemos nos esquecer que há tempos já havia uma crise climática e ambiental.

Desse modo, há um movimento que já se iniciou vindo de empresas que buscam soluções para esses desafios. Isso posto, o Covid-19 também pode representar o prenúncio para o crescimento destas empresas. São todas hipóteses, não obstante, reiteramos que há consenso sobre o setor de serviços como força motriz da retomada, dada sua velocidade e giro.

André Galhardo, economista-chefe da Análise Econômica Consultoria

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