A venda da subsidiária de telecomunicações da Copel arrecadou R$ 2,39 bilhões. O Fundo Bordeaux, representado pela corretora Planner, venceu o leilão de privatização, realizado nesta segunda-feira (9) na sede da B3, em São Paulo. Com quatro investidores disputando o certame, a empresa foi vendida com ágio de 70,94%, superando em quase R$ 1 bilhão o preço mínimo estipulado, que era de R$ 1,4 bilhão por 100% das ações.
Na abertura dos envelopes, duas empresas ofereceram valor superior a R$ 2 bilhões, iniciando o leilão com ágio de mais de 50%. Na disputa por viva voz entre a Bordeaux e a Algar Soluções, a diferença do valor arrematado com o mínimo previsto superou os 70%. O recurso arrecadado retornará ao caixa da Copel e vai ampliar os investimentos da estatal na distribuição, transmissão e geração sustentável de energia.
Para o governador Carlos Massa Ratinho Junior, o bom resultado demonstra a solidez da companhia e o processo de transparência que acompanhou a privatização, a primeira em 20 anos no Estado. “Este é um dia importante e emblemático para o Paraná, que depois de 20 anos retoma, com credibilidade e transparência, a privatização de parte de seus ativos”, afirmou.
Ratinho Junior destaca que o Estado prepara leilões de outros setores, como o de gás, aeroportos, pátios veiculares e concessão de rodovias. “É o pontapé de um grande pacote de modernização do Estado, que trouxe ao mercado uma empresa redonda, dentro de um setor competitivo como é o de telecomunicações”, salientou ele logo após o leilão da Copel Telecom.
“Este processo também representa uma grande oportunidade para a Copel, que passará a cumprir sua vocação e modernizar as áreas de geração, transmissão e distribuição de energia, para dar mais qualidade à energia que chega aos consumidores, seja no campo ou na cidade”, destacou Ratinho Junior “A companhia se fortalece como uma das principais empresas do setor elétrico da América Latina”, afirmou.
DESESTATIZAÇÃO – A Copel Telecom possui 100% de sua tecnologia em fibra ótica e é líder deste mercado no Paraná. A subsidiária está presente nos 399 municípios do Estado com 36 mil quilômetros de cabos que levam internet de alta velocidade a 170 mil clientes.
Com a desestatização, a empresa ganha o benefício de concorrer com regras de mercado, o que significa mais agilidade e possibilidade de ofertar novos serviços para o cliente. Os contratos atuais da subsidiária serão respeitados, incluindo todos os firmados com o Governo do Estado, que foram contratados em concorrência pública.
De acordo com o diretor-geral da subsidiária, Wendell Oliveira, o processo de venda deve ser finalizado até meados do ano que vem, depois de ser analisado por instituições como a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Ele também ressaltou que os funcionários da Telecom serão incorporados por outras empresas do grupo Copel.
“Este processo está sendo feito com muita responsabilidade e transparência, por se tratar de um ativo importante, da primeira privatização depois de tanto tempo, além de ser a última grande empresa de telecomunicação a ser privatizada”, explicou Oliveira. “Há ainda um caminho longo até processo de desembarque, que passa pela homologação de órgãos como a Cade e a Anatel até chegar à assinatura definitiva do contrato, a transferência das ações e o recebimento do valor de venda”, disse.
ENERGIA – Com o desinvestimento no setor de telecomunicações, a Copel passará a concentrar seus esforços nas áreas de geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica, suas principais atividades. Com esse posicionamento estratégico, a companhia está se desfazendo de negócios fora do setor elétrico.
Em agosto, a estatal já tinha se desfeito de sua participação na Sercomtel, empresa de telecomunicações que opera em Londrina, no Norte do Estado, que também foi arrematada pelo Fundo Bordeaux. O próximo passo deve ser o desinvestimento na Compagás, empresa na qual a Copel detém 51% dos ativos. A distribuidora de gás canalizado conta com cerca de 47 mil clientes e 833 quilômetros de rede.
A ideia, explica o presidente da companhia, Daniel Slaviero, é focar em projetos que garantam a segurança e a eficiência energética aos seus 4,7 milhões de clientes em sua área de concessão. Para isso, a companhia tem feito, desde o início de 2019, os maiores investimentos da história em redes de distribuição de energia, na casa de R$ 1 bilhão anual.
“O sucesso deste leilão, que ficou acima da expectativa e trouxe grupos consolidados do mercado, é resultado da confiança, robustez e segurança jurídica que seguiu por todo o processo de privatização, que foi acompanhado pelos órgãos de controle”, afirmou Slaviero. “Temos uma visão de futuro para as próximas décadas, com projetos para dar mais segurança ao sistema, ampliar a base de ativos da Copel e que sejam atrativos para aumentar os retornos aos nossos acionistas, clientes e consumidores”, disse.
O principal projeto da companhia na área é o Paraná Trifásico, que já instalou, neste ano, 2.500 quilômetros de linhas no Estado. Serão 25 mil quilômetros até 2025, em um investimento total superior a R$ 2 bilhões. O reforço no sistema traz mais segurança principalmente nas áreas rurais, fortalecendo as agroindústrias e importantes cadeias de produção, como a de aves, peixes, suínos e de leite.
Em janeiro, a Copel começa a implantar o programa Rede Elétrica Inteligente, o maior do gênero no Brasil, que vai tornar o sistema da companhia o mais moderno e seguro do país. Na primeira etapa, serão investidos R$ 820 milhões para atender um terço dos clientes da empresa, que representam cerca de 1,5 milhão de unidades consumidoras.
OPORTUNIDADES – A privatização da Copel Telecom também acompanha um movimento dentro do Governo do Estado, que conta com outros projetos que devem envolver a iniciativa privada, incluindo novas privatizações, concessões e Parcerias Público-Privadas (PPPs).
O Paraná terá um dos principais programas de concessões rodoviárias do País. Com previsão de ser licitado em 2021, o novo Anel de Integração deve incorporar 1,3 mil quilômetros de estradas ao trecho atual, de 2,5 mil quilômetros. Todo o processo, incluindo a modelagem, quantidade de lotes, prazos, obras e o valor da tarifa do pedágio, está sendo construído junto com o Ministério da Infraestrutura. O projeto está em fase de estudos e é elaborado pela Empresa de Planejamento e Logística (EPL), em parceria com o IFC, braço de projetos do Banco Mundial.
A Compagas é outro ativo que pode passar para a iniciativa privada em razão do grande volume de recursos necessários para expandir a rede de gás no Estado. Atualmente, a companhia conta com 48 mil clientes dos segmentos residencial, comercial, industrial, veicular e geração de energia elétrica e está presente em 16 municípios, a maioria na região de Curitiba e Campos Gerais.
Empresa de economia mista, a Compagas tem como acionista majoritária a Copel, com 51% das ações, a Gaspetro, com 24,5% e a Mitsui Gás e Energia do Brasil, com 24,5%. O governo estadual trabalha para renovar a concessão federal dos serviços ofertados pela empresa e quer estimular a ampliação da distribuição para diversas regiões do Paraná.
FERROESTE – Outra oportunidade em análise é a privatização da Estrada de Ferro Paraná Oeste (Ferroeste), dentro de um projeto maior que prevê a implantação do Corredor Oeste de Exportação. O novo ramal ferroviário vai ligar o Porto de Paranaguá até a cidade de Maracaju (MS), ampliando para mais de 1,3 mil quilômetros a malha operada pela Ferroeste.
A ferrovia foi qualificada para integrar o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) do governo federal, atendendo a um pedido feito pelo Governo do Estado. Com a inclusão no PPI, a União vai ajudar o Paraná com apoio técnico regulatório necessário em diversas áreas, da modelagem e meio ambiente à atração de investidores. A expectativa é colocar a Ferroeste em leilão na Bolsa de Valores (B3) até novembro de 2021, já com o EVTEA e o EIA/RIMA concluídos.
PPP – O programa de PPPs inclui a construção e gestão de presídios, como a Penitenciária Industrial de Piraquara (PIP), e a gestão de pátios veiculares, hoje sob responsabilidade do Detran-PR. Além disso, o Estado também repassou à iniciativa privada a concessão do Parque Estadual de Vila Velha. O grupo que venceu a licitação fez uma série de melhorias na unidade e pode explorar o potencial turístico do parque por um período de 30 anos.
Quatro aeroportos paranaenses integram o programa de concessões da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac): o Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais, além dos de Foz do Iguaçu, Londrina e Curitiba.