Iniciativa pode ser realizada na forma de parceria e oferece democratização da saúde pública por meio da tecnologia através de instituição sem fins lucrativos
E se alguém dissesse que é possível reduzir em até 82% a fila de espera em pronto atendimentos do SUS nas cidades por meio da tecnologia? E mais: e se isso pudesse ser utilizado pela população sem custo? Pois é isso que o Robô Laura pode fazer. Criada pelo analista de sistemas Jac Fressato, a inteligência artificial cognitiva que monitora diversos tipos de casos clínicos e auxilia o atendimento médico está disponível para pequenos e médios municípios em todo o Brasil, e quer levar serviços como pronto atendimento digital, telemedicina, monitoramento automatizado de pacientes, entre outros, para o SUS. A ferramenta pode ser viabilizada por meio do Instituto Laura, entidade sem fins lucrativos presidida por Jac, que transformou sua história pessoal em compromisso com a saúde pública.
“O Instituto tem um propósito, que é o de levar saúde para quem precisa e, assim, atingir 1 bilhão de pessoas. Pode parecer ousado, mas é possível chegar a esse número. O Brasil tem hoje um sistema de saúde público que pode e deve atender 100% da população, mas enfrenta dificuldades. Todo mundo sabe o quanto municípios pequenos sofrem com falta de médicos, fora outros problemas. É aí que entra a tecnologia, possibilitando, por exemplo, reduzir de 60 a 82% o número de atendimentos em casos leves, se comparados com atendimentos presenciais em unidades de saúde”, explica Jac.
Fressatto é o criador do Robô Laura, inteligência artificial que hoje atende cerca de 50 clientes, entre grandes nomes como Bayer, Abbott, Grupo Fleury e 12 operadoras de saúde oferecendo os mais variados serviços digitais para a saúde. Em outras palavras, o robô oferece tecnologia cognitiva para gerenciar riscos por meio do monitoramento de dados, o que significa que quanto mais é usado, mais o robô “aprende”. “O propósito inicial, quando o Laura foi criado em 2014, era o de reduzir as mortes causadas por infecções generalizadas. Com o tempo, percebemos que esse era um modelo altamente replicável para muitos outros casos e que através dele, seria possível oferecer uma solução para o nosso sistema público de saúde. Foi então que nasceu o Instituto Laura”, conta Fressatto.
E para que a meta do Instituto seja alcançada, os municípios só precisam ter disponibilidade. Isso porque a parceria pode ser estabelecida de forma transparente, amparados pela Lei n. 13.019/2014, que institui a parceria entre organizações da sociedade civil e a administração pública de forma legal. “O Instituto é uma entidade construída e mantida por pessoas que realmente querem impactar vidas. Nós temos a tecnologia e a mão de obra para levar de forma relativamente fácil saúde para todos os cantos do mundo, literalmente. Por que não faríamos?”, diz Jac.
A recente regulamentação da telemedicina pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), e a mais recente portaria divulgada pelo Ministério da Saúde que dispõe sobre ações e serviços de telessaúde no SUS também são ferramentas para que os municípios tenham segurança para utilizar tecnologias a favor da população e do sistema. “É o futuro da medicina. A gente não está falando que a tecnologia vai substituir a consulta médica. Estamos trazendo uma ferramenta para que profissionais da saúde tenham cada vez mais tempo de qualidade com seus pacientes, além de desafogar as filas de pronto atendimentos através de uma triagem informatizada, por exemplo”, reforça o presidente do Instituto Laura.
Cidade modelo
E foi conhecendo o trabalho e o propósito do Instituto que a cidade de Guarapuava, no interior do Paraná estabeleceu um convênio por meio da secretaria de inovação da cidade, e em janeiro de 2022, levou a tecnologia para a rede pública de saúde. “Quando tivemos um pico de casos de Covid na cidade, em 2020, nosso sistema colapsou. E foi a partir dessa experiência que corremos atrás de pensar de que forma poderíamos trazer a inovação para que isso não acontecesse mais. Foi então que conhecemos o Laura. Do dia em que assinamos a parceria, foram 12 dias para que a tecnologia estivesse implementada e toda a cidade pudesse acessar. Em janeiro, já com o robô, tivemos 14 mil casos de Covid, e só conseguimos identificar e dar conta desse número com o auxílio da telemedicina e do monitoramento dos pacientes que a inteligência oferece. O resultado foi tão bom que em maio passamos a oferecer o sistema ampliado não apenas para Covid, mas também para gripes e problemas respiratórios na área da pediatria”, conta Moema Rodrigues França, coordenadora do programa Saúde Digital, da Secretaria de Saúde de Guarapuava.
De acordo com a Secretaria, de janeiro até agora, foram realizados mais de 21 mil atendimentos e quase 2 mil teleconsultas. Para humanizar, a cidade criou um avatar, a Sara. A personagem foi criada e veiculada em materiais de comunicação que explicavam como seria o atendimento para a população. “Hoje, temos a Sara no aplicativo Fala Saúde, do município, e no site da prefeitura. Para se ter ideia, na primeira quinzena de maio, quando lançamos o Sara para síndromes gripais em crianças, tivemos mais de 200 acessos somente pelo site. A gente viu que teve um impacto muito positivo para a população, tanto é assim que para o segundo semestre já vamos buscar ampliar o Sara, para o acompanhamento de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão”, conta Moema.
Apoio aos municípios
O Instituto também está alinhado ao Previne Brasil, programa da Secretaria de Atenção Primária à Saúde, do Ministério da Saúde, e que garante repasses para as secretarias municipais por meio de diversos indicadores, como de quantidade de atendimentos, por exemplo. “Ou seja, quanto mais as cidades utilizam a tecnologia, mais dados positivos eles têm para apresentar ao Ministério da Saúde, o que garante mais repasse de verba para aquela cidade. É uma nova forma de economia da saúde, otimizando o processo para todo mundo”, explica Jac Fressatto.
Ainda, em 2020, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação (MCTic), O hospital das Forças Armadas e a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa assinaram um contrato para promover a aplicação da inteligência artificial em hospitais públicos, universitários e filantrópicos no Brasil, melhorando o atendimento de pacientes em UTIs. Na primeira etapa, três hospitais das Forças Armadas receberam a tecnologia, e a implementação faz parte do profeto Inova HFA, voltado para o apoio e a adoção imediata de inovação na saúde.
Um propósito para a vida
Todos os frutos que já foram colhidos pelo trabalho como premiações, parcerias, convênios, são consequência do empenho de Jac Fressatto que, em 2010, perdeu sua primeira filha nascida prematura, Laura Fressatto. Com 18 dias de vida, Laura enfrentou um quadro de sepse e veio a óbito. A partir de então, começou a luta do analista de sistemas para reduzir o número de mortes pela doença que, segundo o Instituto Latino-Americano de Sepse (Ilas) é uma das principais causas de morte hospitalar tardia e em UTIs, superando infarto do miocárdio e câncer. Ainda segundo o Instituto, no Brasil, a mortalidade da conhecida infecção generalizada chega a 65%, enquanto em outros países está em torno de 30 a 40%.
Para Jac, esse é apenas o começo de uma longa história, que motiva seus dias e todos os envolvidos no projeto de atingir 1 bilhão de vidas. “A história da Laura me trouxe força para encorajar e motivar uma verdadeira revolução na saúde pública. Por meio do Instituto, queremos levar essa transformação, proporcionada pela tecnologia. Não estamos falando de competir com a inteligência humana, estamos falando de uma inteligência que coexiste e amplia a capacidade do ser humano, do profissional. Acreditamos que ela não só é possível, como também necessária. Eu prometi para a Laura que levaria o nome dela para todos os cantos por meio da equidade ao acesso à saúde, e hoje, esse propósito já não é só meu, mas de todos os envolvidos”, finaliza Fressatto.