Como evitar um déficit nas habilidades de TI

Por Don Jacob*

Se o setor de TI deseja evitar um déficit potencial de competências no futuro, os profissionais formados na área precisam de habilidades mais genéricas e experiência prática para lidar com a complexidade cada vez maior das redes, alimentada por um contínuo investimento em infraestrutura de banda larga. Confirmei essa opinião ao analisar os resultados de uma pesquisa que minha empresa, a SolarWinds, realizou entre profissionais de TI do Brasil. Segundo a pesquisa, apenas 12 por cento disse se sentir suficientemente instruído e preparado para o papel exercido na área de TI.

Além disso, mais de 30 por cento dos participantes definiu o estado atual da TI como uma parceria mais ampla com a empresa, mais do que qualquer outro fator de tecnologia ou tendência, e todos os profissionais de TI disseram ter, até certo ponto, a oportunidade de influenciar decisões comerciais. Isso sugere que os profissionais de TI de hoje estão cada vez mais ultrapassando os limites da sala dos servidores para obter resultados em toda a organização e que um déficit de competências ou o treinamento insuficiente em TI entre os profissionais poderia impedir esse progresso.

Com habilidades de TI ainda dominando as conversas sobre negócios e tecnologia no Brasil, precisamos reconhecer que simplesmente aumentar o número de profissionais formados ou terceirizar funções técnicas não daria conta dos desafios fundamentais enfrentados por nosso setor. Líderes e educadores em tecnologia precisam adotar uma abordagem mais prática e a longo prazo de treinamento e aprendizado se quiserem preparar as pessoas para a complexidade e a interconexão do ecossistema de TI que teremos no futuro.

Os setores de ensino superior e de TI devem trabalhar em conjunto para oferecer o equilíbrio certo entre conhecimento teórico e prático para gerenciar e capitalizar com eficácia as rápidas mudanças tecnológicas. As empresas também devem investir de forma mais agressiva em treinamento de pessoa para preparar a força de trabalho de TI para a complexidade cada vez maior das redes corporativas.

É claro que, muitas vezes, isso pode ter um preço elevado, e esse preço pode ser demasiado alto para as pequenas e médias empresas. É aqui que grupos de usuários dos fornecedores podem ajudar a aliviar essa carga, oferecendo conselhos práticos sobre o uso de seus produtos e/ou serviços, geralmente sem despesas por parte do indivíduo ou da organização que recebe a ajuda.

Muitos dos principais fornecedores de TI, como IBM, Microsoft e Cisco, têm seus próprios grupos de usuários exclusivos, que podem ser uma fonte valiosa de informações e um grupo de parceiros no setor prontos para responder a qualquer pergunta que você possa ter. Na SolarWinds, também temos nosso próprio grupo de usuários, chamado thwack, em que os profissionais de TI (clientes ou não da SolarWinds) podem fazer perguntas sobre os desafios na área de TI e obter respostas imediatas e testadas pelos usuários para ajudá-los a resolver problemas.

Outro problema que os profissionais formados em TI enfrentam atualmente é que muitas das vagas de trabalho iniciais que costumavam estar disponíveis desapareceram com a terceirização de funções por organizações. Portanto, é mais do que essencial que as instituições de ensino superior forneçam aos alunos uma combinação de habilidades técnicas e visão comercial, a fim de oferecer um maior valor para os empregadores em potencial. Além disso, os programas de pós-graduação e os estágios oferecem uma oportunidade para que as pessoas obtenham experiência prática para ajudar na obtenção de um cargo em tempo integral.

É impossível prever com precisão quais fatores mais contribuirão para a complexidade da rede no futuro, mas uma combinação de habilidades básicas e formação contínua colocará a próxima geração de talentos de TI em uma boa posição para enfrentar qualquer desafio. O que sabemos é que as principais tendências de TI, como a virtualização e a lógica BYOD, combinadas com investimentos contínuos em infraestrutura de banda larga superrápida, são as causas principais da crescente complexidade da rede hoje.

Para lidar com infraestruturas de rede cada vez mais complexas, empresas e educadores precisam investir em habilidades genéricas de TI que possam ser adaptadas a qualquer nova tendência ou desafio, acompanhando a queda da demanda por conhecimentos especializados. Somente ao estimular essas habilidades polivalentes, e complementá-las com treinamento contínuo e ferramentas adaptáveis e modulares, é que a comunidade brasileira de negócios se posicionará para o sucesso em um ambiente de TI cada vez mais complexo.

Don Jacob é Geek Chefe da SolarWinds, empresa de softwares de gerenciamento de TI com sede em Austin, Texas.

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Em 2020, déficit de profissionais de TI pode chegar a 408 mil

A mesa debate “Por que há escassez de pessoal preparado para os novos desafios tecnológicos? Como construir um sistema educacional antenado no futuro?”, é um dos destaques da programação do segundo dia do II Encontro do Observatório. O evento, promovido pela Associação para Promoção da Excelência do Software (Softex), através do NISB/Observatório Softex, unidade de inteligência, estudos e pesquisas da entidade, tem por objetivo fomentar a troca de ideias sobre temas de interesse em software e serviços de TI e será realizado em Campinas nos dias 31 de outubro e 1° de novembro.

Na oportunidade, Paulo Villela, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), analisará e quantificará o atual cenário de falta de mão de obra qualificada para o setor de TI no Brasil, tema de recente Caderno Temático publicado pelo NISB/Observatório Softex. “O trabalho aponta para um déficit aproximado de 408 mil profissionais em 2020. Mas o mais importante não são os números em si e sim a tendência de agravamento da situação de escassez de mão de obra qualificada. Se nada for feito para reverter este quadro, a situação tende a piorar. Essa é a principal conclusão do estudo”, analisa Paulo Vilela.

Para o professor da UFJF, essa carência decorre, em grande parte, da falta de sintonia entre o perfil profissional que as empresas precisam e o que as escolas técnicas e as de nível superior formam. “O número de profissionais graduados seria suficiente para atender à demanda do mercado de trabalho. Porém, nem todos que se formam atendem às expectativas dos empregadores”, pondera.

Paulo Villela comenta ainda que a área acadêmica forma um profissional mais abrangente e não voltado para tecnologias e necessidades específicas e imediatas, justamente o que a indústria requer. Por outro lado, ele lembra ser difícil formar um profissional para tecnologias específicas, uma vez que elas mudam radicalmente a cada dois ou três anos.

Villela entende que o problema não está na formação tradicional e sim na formação complementar necessária à adaptação do profissional que sai da escola ao perfil de cada empresa. “Talvez a indústria devesse assumir um papel mais ativo e ser incentivada pelo Governo a participar mais diretamente dessa formação complementar”, sugere. “O incentivo se justifica porque a formação de mão de obra custa caro e também envolve riscos diversos. Por exemplo: a empresa gasta dois anos para formar um bom profissional e no terceiro ele muda de emprego. E aí, quem paga essa conta?”, indaga.

“Como um exemplo a ser seguido, Paulo Vilela cita a parceria entre a Embraer e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) para a criação do Mestrado Profissional em Engenharia Aeronáutica. Na visão do professor da UFJF, o desafio consiste em ampliar essas ações numa escala nacional para solucionar os problemas de escassez de mão de obra das micro e pequenas empresas. “A dificuldade do Brasil é saber transformar as boas experiências de pequena escala em programas com as grandes dimensões que um país continental como o nosso exige. Não basta saber fazer, tem que saber fazer grande e isso não é uma tarefa fácil”, conclui.

Na mesa de debates com Paulo Villela estarão vários convidados, incluindo o pesquisador Paulo Nascimento, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea); Roberto Mayer, vice-presidente da Assespro; e Silvio Meira, professor titular de Engenharia de Software do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que na oportunidade lançará o livro “Novos Negócios Inovadores de Crescimento Empreendedor no Brasil”.

A programação do segundo dia do Encontro também discutirá as relações entre academia, institutos de ciência e tecnologia e empresas. Serão apresentados esforços de construção de parcerias entre empresas de TIC e a academia realizados na Argentina pela Fundación Sadosky, e no Brasil, pela INOVA/Unicamp e pelo CTI Renato Archer. O bloco contará também com a participação de Luiz Marcio Spinosa, diretor da Agência PUC e do PUCPR Tecnoparque; Renato Garcia, professor do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP); e Mariana Yazbeck, diretora de Operações da Softex.

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