Economista Pio Martins fala sobre cenário econômico em palestra gratuita

Perspectivas para o Brasil pós 2018 e a importância de entender o cenário econômico do país. Esses são os temas centrais da palestra gratuita que acontece na quarta-feira (28), na Universidade Positivo, com o economista e reitor da instituição, professor José Pio Martins. O encontro, destinado a profissionais das mais diversas áreas, promete uma linguagem de fácil compreensão para todos os públicos. A palestra acontece das 19h às 21h, na Sala de Eventos do Bloco da Pós-Graduação, no câmpus sede Ecoville. As inscrições podem ser feitas pelo link up.edu.br/palestra-economia.

Autor dos livros Educação Financeira ao Alcance de Todos (2004), Seu Futuro (2011) e coautor do livro Pinceladas de Inovação (2018), o economista aborda os pontos fracos da economia e os gargalos para o crescimento econômico brasileiro, como por exemplo o alto número de pessoas desempregadas e subempregadas. “O Brasil tem uma necessidade iminente de fazer com que a economia cresça, mas tem diversas pessoas que estão fora do mercado de trabalho”, destaca Martins. Por isso, o especialista fala das oportunidades para empreendedores e os novos consumidores do país, como a terceira idade.

Palestra Perspectivas para o Brasil pós 2018

Data: 28/11, quarta-feira

Horário: das 19h às 21h

Local: Sala de Eventos do Bloco da Pós-Graduação | Câmpus Ecoville (Rua Professor Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 – Ecoville)

Inscrições: up.edu.br/palestra-economia

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Punir os culpados, salvar as empresas – Por José Pio Martins

O terremoto moral e jurídico que se abateu sobre o grupo de empresas da família de Joesley e Wesley Batista, com a Holding J&F e as unidades industriais da JBS à frente, levanta uma importante questão: qual tratamento deve ser dado pelas leis aos empresários e às empresas? Trata-se de empresários que cometeram crimes e de um grupo de empresas que operam em vários países e têm, em seus vários ramos de atividade, 235 mil empregados em toda a cadeia produtiva. A resposta à pergunta proposta depende de entender a distinção entre as pessoas físicas dos controladores e a pessoa jurídica das empresas.

Há algum tempo, virou moda falar em “ética empresarial”, como se a empresa em si fosse um ente humano com capacidade de pensamento e discernimento, quando é um sistema composto de bens de capital (terrenos, prédios, máquinas, equipamentos etc.), que contrata empregados, compra matérias primas e produz bens e serviços. Como organismo, a empresa é um ente moralmente neutro, pois é um sistema material, sem vontade própria, montado e dirigido por pessoas. A empresa adquire vida no mundo jurídico e econômico, obtém registro no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) e executa atos econômicos e negócios jurídicos diversos, mas sempre sob o mando de alguém.

A empresa em si não toma decisões; ela executa as decisões tomadas por seus sócios e dirigentes. Como ente material, a empresa não é ética, aética ou antiética. As pessoas são. Ética é uma virtude essencialmente e exclusivamente humana. O animal homem é o único capaz de pensar, discernir, decidir e agir conforme um código de conduta baseado no certo ou errado, legal ou ilegal, bem ou mal. Os animais irracionais não agem assim, pois eles não têm capacidade de raciocinar, discernir e decidir entre uma ação e outra com base em aspectos éticos, morais, religiosos ou jurídicos.

A empresa tem importante função social pelo fato de produzir bens e serviços, empregar pessoas, pagar impostos e satisfazer necessidades de consumidores. A propriedade que é empregada para praticar tais atos torna-se empresa e é a mais importante instituição dentro do sistema econômico. A legislação deve, portanto, submeter a empresa a um conjunto de normas e obrigações consubstanciadas nas leis comerciais, tributárias, trabalhistas, ambientais e outras, cabendo aos responsáveis pela gestão e operação da empresa a obrigação de garantir a legalidade do que ela faz sob suas ordens e seus atos de gerência.

Nesse sentido, é do interesse da nação que, quando irregularidades e crimes ocorrem no interior de uma empresa, os autores sejam punidos por seus atos e a empresa seja preservada. Os culpados, após o devido processo legal, devem ser afastados, despojados de seu patrimônio e presos, e a gestão da empresa deve ser entregue a outros dirigentes e controladores a fim de seguir sua função sem os vícios dos antigos donos. A questão é saber se as leis brasileiras são eficientes para promover um processo justo e rápido de apuração e punição dos culpados e, ao mesmo tempo, salvar a empresa e colocá-la sob a direção de gestores qualificados.

Essa discussão não se restringe ao Brasil. Pelo contrário, vem figurando nos debates em vários países onde prevalece o capitalismo. Como sistema econômico, o capitalismo é baseado na propriedade privada do capital, organização empresarial da produção e trabalho assalariado. Repetindo: mesmo com seus defeitos, esse ainda é o melhor sistema para promover o progresso material e, por consequência, o desenvolvimento social.

José Pio Martins, economista e reitor da Universidade Positivo.

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A sabedoria do caipira – Por José Pio Martins

Em meados dos anos oitenta, fui secretário do Planejamento do município de Londrina, quando era prefeito o Dr. Wilson Moreira. O “velho”, como era chamado, tornou-se uma figura lendária na região. Mineiro, formado em Engenharia, empresário comercial, agricultor e pecuarista, era homem de moral irretocável e de grande sabedoria, apesar de ele mesmo se dizer um caipira.

Muitas ideias que hoje leio em autores norte-americanos, eu já tinha ouvido do Dr. Wilson. Lá em seu mundo de interior, longe dos holofotes e da fama, com sua fala mansa e modos simples, ele dizia coisas que, se tivessem sido publicadas, não ficariam nada a dever a certos gurus de administração.

Lembro que, quando um secretário começava a falar sobre a solução para algum problema, ele pegava uma folha, anotava quatro perguntas e dizia: “volte a seu gabinete, estude essas quatro perguntas e só retorne aqui quando tiver as respostas e suas justificativas”.

As perguntas eram:

a) Qual é concretamente o problema?

b) O que precisa ser feito?

c) Qual é o plano de ação?

d) Quanto vai custar?

As perguntas acima faziam parte do método de planejamento do “velho”, e elas dizem respeito ao foco da situação (qual é concretamente o problema), às decisões (o que precisa ser feito), às soluções (qual o plano de ação) e aos recursos (quanto vai custar). Muitos autores inventam frases rebuscadas para dizerem a mesma coisa. O Dr. Wilson era um estudioso e vivia ensinando a nós todos, seus secretários. Por onde andasse, ele tinha o hábito de ensinar, e dizia que sua frustração era não ser professor.

Os que falavam demais, ele costumava censurar dizendo: “Falatório comprido é bom para sessão de brainstorming. Mas frente a um problema específico, precisamos ter foco, ser objetivos e pragmáticos”. Quando alguém queria dar uma opinião, ele perguntava: “Você conhece esse problema ou, pelo menos, se dedicou a estudá-lo?”. Se a resposta fosse “não”, ele dispensava o palpite.

Falando sobre gestão para estudantes do ensino médio, abandonei os gurus estrangeiros de nomes pomposos e lhes contei a história do Dr. Wilson: um menino pobre e franzino, que se tornou empresário bem-sucedido e prefeito aplaudido. Falei das ideias e teorias dele, muitas das quais estão por aí, ditas por gurus como se fossem novas e revolucionárias.

alar ideias velhas e teorias antigas ditas por algum filósofo ou algum escriba do passado. Respaldados por terem nascido nos Estados Unidos – nação admirável quando se trata de ciência, tecnologia e sucesso empresarial –, eles nos oferecem livros fantásticos, mas também nos enfiam obras requentadas e de baixa qualidade.

Nós brasileiros muitas vezes agimos como colonizados mentais, não conseguimos fazer distinção entre pérolas e lixo, tomamos como novo e verdadeiro tudo o que vem do exterior e deixamos de valorizar coisas boas que temos por aqui. Uma das razões é que o Brasil – nação fantástica, mas recheada de pobreza e maus exemplos – dificulta a credibilidade dos nativos daqui.

O Dr. Wilson faleceu em 2008, aos 84 anos, e deixou um exemplo de sabedoria e de retidão moral. Para quem se autoproclamava um caipira, ele era, na verdade, um homem notável. Pena que suas ideias não tenham sido registradas em livro.

*José Pio Martins é economista e reitor da Universidade Positivo.

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