Por que o setor de papel deve ter otimismo cauteloso em 2021

Por Júlio Jubert Caiuby Guimarães, diretor comercial da Ibema Papelcartão

Quando analisamos os números do setor de papelcartão neste ano tão imprevisível que tivemos, temos motivos para otimismo, ainda que cauteloso. A expedição de papelcartão (todo o volume produzido ou importado no Brasil, excluídas as vendas externas) fechou o ano de 2020 com alta de 6% acima do volume de 2019 – ante uma queda projetada de mais de 4% no PIB nacional como um todo no mesmo período. A grande diferença, de 10 pontos percentuais, parece dizer muito sobre as mudanças de hábito da população brasileira.

Ao longo de 2020, entre março e junho, a indústria sofreu grandes perdas. A retomada, porém, durante o segundo semestre, foi excelente para os três elos de nossa cadeia produtiva: o fabricante de papelcartão, o convertedor gráfico e o brand owner. Podemos dizer que tivemos dois anos muito diferentes dentro de um único: metade desafiador, metade muito positivo.

Com a baixa de estoques e a consequente retomada, todos entraram em uma espiral de atendimento emergencial de pedidos – e ainda estamos nela. Com isso, nosso comitê diário de gestão de crise tornou-se, nos últimos dois meses, comitê de “gestão de abastecimento”, que acompanha a demanda e oferta de insumos.

De onde vem todo esse crescimento? Além das reposições de estoque, percebemos que os setores de alimentação, farmacêuticos, higiene pessoal e higiene do lar foram aqueles que mais alavancaram a alta no consumo, somados à contribuição do maior volume de vendas digitais de maneira geral (e-commerce). O consumidor está mais em casa, avalia melhor suas compras e experiencia mais tudo aquilo que adquire.

E agora, num cenário de extrema pressão de preços, o que podemos esperar para 2021? Num otimismo contido, podemos projetar nova alta no consumo de papelcartão, algo em torno de 3,5%.

Entre os principais impactos a enfrentar, devemos destacar a inflação dos insumos e o próprio impacto de câmbio, que, isoladamente, trouxe alta de mais de 30% nos preços, com destaque para celulose e produtos químicos que integram a cadeia produtiva do papel.

Na ponta do usuário final, vemos o novo ano como a confirmação de uma tendência nos hábitos de consumo: “o lar é o novo centro de convívio”, dizem as melhores consultorias. Se até mesmo o setor imobiliário já sente essa transformação, com a demanda por casas e apartamentos maiores e mais aconchegantes, sem falar na inclusão do home office na estrutura de cômodos e móveis, o que dizer da alimentação, que voltou a ser realizada em casa?

Com isso, as embalagens necessárias são outras: práticas e que evitem o desperdício, alinhadas a um consumidor mais consciente, que busca a troca do plástico pelo papelcartão, seja em alimentos, bebidas ou produtos de higiene e limpeza, tendo em vista a reciclabilidade.

No e-commerce, da mesma forma, a tendência são embalagens resistentes, mas que conversem com o público – e chamem para a experiência com a marca, rumo à próxima compra.

Por outro lado, sabemos que, em algum momento em 2021, o mercado interno deve sofrer algum desaquecimento por conta da recomposição de estoques de toda a cadeia produtiva – podemos apenas estimar essa inversão para algum momento entre abril e maio.

Seja quando for, nosso otimismo, ainda que cauteloso, se baseia nos números do setor e no sentimento que recebemos do consumidor, sempre em busca de mais qualidade tanto em seus produtos quanto nas embalagens que os acondicionam.

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