Pesquisa Deloitte: Empresas que investem em P&D não utilizam incentivos fiscais. Burocracia é indicada como maior entrave

A área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) de uma empresa contribui para o aperfeiçoamento de serviços, produtos e tecnologias existentes, promovendo, assim, a competitividade. Além disso, os estímulos à inovação na forma de incentivos fiscais se tornaram uma forte tendência internacional nos últimos anos.

Apesar de a maioria (78%) dos empresários já desenvolverem projetos de P&D, apenas 30% das empresas adotam incentivos fiscais para financiar as iniciativas de inovação e P&D, revela a pesquisa “Incentivo à P&D e competitividade”, levantamento realizado pela Deloitte, maior organização de serviços profissionais do mundo, com a Pieracciani, consultoria especializada em inovação.

“Os dados mostram que as empresas estão bem divididas em relação aos pontos positivos e negativos da utilização dos incentivos fiscais. Na maioria dos casos, a opção por não utilizar vem principalmente da burocracia para a obtenção do incentivo. Por outro lado, há oportunidades que podem ser exploradas pelas empresas, para que adotem mais intensamente benefícios como dupla dedução de gastos correntes com P&D, reduzindo os lucros tributáveis”, destaca Flávia Crosara, sócia de Consultoria Tributária da Deloitte. 

A pesquisa constatou que grande parte das empresas (78%) realizam projetos em P&D e 67% conhecem a Lei do Bem – iniciativa do Governo Federal para conceder incentivos fiscais às organizações que realizam projetos de P&D e tem como objetivo incentivar a inovação tecnológica. Os principais setores que investem em P&D são prestação de serviços, bens de consumo, TI e telecom, agronegócio, alimentos e bebidas e infraestrutura.

Entre as empresas pesquisadas que não utilizam benefícios fiscais (70%) para financiar essas iniciativas, 60% não pretendem utilizar e 31% não adotam, mas pretendem aderir esse ano. Ainda entre as que não adotam, 9% já adotaram; essas e indicam que o principal motivo para não adotarem mais é a burocracia para a comprovação dos requisitos (42%).

Entre as organizações que atualmente utilizam esses incentivos (30%), os principais setores são bens de consumo, prestação de serviços e agronegócio, alimentos e bebidas, respectivamente.

Da perspectiva geral, de todas as empresas respondentes, os quatro principais pontos positivos indicados foram a ampliação da capacidade da empresa de realizar investimentos (51%), a redução de despesas com impostos (50%), a melhoria contínua dos processos (41%) e a contribuição para a geração de empregos e desenvolvimento local (40%). A maioria das organizações (78%) concorda que os incentivos fiscais geram uma proteção de recursos, proporcionando ganhos no ecossistema de negócios em que a empresa está inserida, e 76% acreditam que um incentivo desatualizado ou mal estruturado pode colocar em risco a estabilidade financeira da empresa. Quase dois terços (65%) acham que esses incentivos proporcionam uma competitividade justa entre as companhias, beneficiando empreendedores e a sociedade como um todo.

Entre os quatro pontos negativos principais, em primeiro lugar estão as muitas premissas para usufruir dos incentivos (52%), seguido pelo aumento da competição fiscal entre os entes da federação (33%), a dependência financeira gerada para a empresa ou para o setor (29%) e a contribuição com a distribuição desigual de recursos entre os entes federativos (29%).

As empresas já realizam em Pesquisa & Desenvolvimento e os planos para 2022  

Entre as práticas de P&D mais adotadas entre as organizações pesquisadas estão projetos de pesquisa aplicada (62%), desenvolvimento experimental (48%), pesquisa básica dirigida (29%) e atividades de tecnologia industrial básica (19%).

Como parte do desenvolvimento das ações de P&D, é imprescindível abordar a tecnologia envolvida e o ecossistema de inovação utilizados pelas empresas. A inovação é uma das características principais, não somente para alcançar objetivos — acompanhando as flutuações de mercado –, como para aumentar a visão e o investimento para a área de pesquisa. Dentro desse contexto, 88% das empresas pesquisadas têm práticas colaborativas no ecossistema de inovação, principalmente por meio de treinamentos (59%), comunicação/interação com clientes (57%), troca de know-how/conhecimento/experiências (54%), adoção de novas tecnologias (52%) e desenvolvimento de novos produtos e serviços (50%).

Mais de três quartos (76%) das empresas possuem parte do orçamento destinado a P&D, e grande parte delas pretende aumentar esse investimento em 2022.Mais da metade (54%) irá aumentar o orçamento destinado a pesquisa e desenvolvimento acima da inflação prevista para 2022 (~5% aa), o que corrobora o apetite das empresas para os investimentos em inovação como forma de impulsionar a competitividade e a capacidade de geração de receita. O aumento médio no orçamento de P&D entre as empresas pesquisadas é de 13,5%.

“Diante do baixo número de empresas que utilizam incentivos fiscais (30%), nos perguntamos o que poderia ser feito para que as empresas superem os obstáculos apontados, como “excesso de premissas” e “burocracia”. Neste sentido, sugere-se incorporar o modelo de gestão sugerido pela Lei do Bem, por exemplo, aos processos da empresa, proporcionando rastreabilidade e qualidade de dados dos projetos, além de permitir que os gestores das áreas envolvidas contribuam estrategicamente para a competitividade e futuros resultados das empresas.”, afirma Alfonso Abrami, sócio-diretor da Pieracciani 

Metodologia e amostra da pesquisa 

A pesquisa “Incentivo à P&D e competitividade — Conhecer e explorar os benefícios fiscais para a inovação”, foi realizada com a Pieracciani, entre novembro e dezembro de 2021, com 334 empresas, cujas receitas líquidas totalizaram R$ 1,2 trilhão em 2021. Entre os respondentes, 55% ocupam cargos de conselho, presidência e diretoria, que atuam nos setores de Prestação de Serviços (35%), Bens de Consumo (17%), TI e Telecom (12%), Infraestrutura (12%), Agronegócio, Alimentos e Bebidas (10%), Comércio (7%), Serviços Financeiros (5%) e Mineração, Petróleo e Gás (2%).

O relatório é resultado de extrato da edição de 2022 da pesquisa “Agenda”, que contou com a participação de 491 empresas, com a distribuição geográfica da amostra ocorrendo da seguinte forma (considerando a sede administrativa das empresas): 72% na Região Sudeste, 13% na Região Sul, 9% no Nordeste e 6% no Centro-Oeste e no Norte do País.

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