Conheça o Copernicus, programa da observação da Terra da União Europeia, e sua interação com o Brasil

Imagine um sistema capaz de monitorar o planeta Terra, fornecendo continuamente em tempo real dados e informações sobre a suas características, incluindo: qualidade do ar, situação da camada de ozônio e radiação ultravioleta, emissões e fluxos da superfície, radiação solar e gases de efeito estufa. Trata-se do Copernicus, programa de Observação da Terra da União Europeia.

Criado com o objetivo de fornecer serviços de informação baseados em dados de satélite e in-situ (ou seja, coletados na própria Terra), o programa europeu conta com a cooperação internacional de diversos países, incluindo o Brasil, Colômbia e Chile, na América Latina, baseada na colaboração entre redes acadêmicas, incluindo a RedCLARA, que opera uma rede regional para a América Latina, GÉANT, a rede regional pan-europeia, e a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Juntas com mais 8 redes nacionais da Europa e América Latina, elas participam do consórcio BELLA, (Building European Link with Latin America), que atende às necessidades de conectividade de longo prazo entre as comunidades de pesquisa e educação europeias e latino-americanas.

Copernicus realiza um conjunto de missões satelitárias chamadas de Sentinel (Sentinela, em português), coordenadas pela Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), onde cada missão foca em um aspecto de Observação da Terra, como a atmosfera, os oceanos e a cobertura terrestre. Os dados disponibilizados pública e livremente por Copernicus são de interesse público e também para a realização de diversas atividades de pesquisa e de monitoramento no Brasil e no mundo, incluindo, por exemplo, o monitoramento das mudanças climáticas e de desmatamento.

Entre os principais usuários dos serviços de Copernicus estão incluídos os elaboradores de políticas públicas do meio ambiente e as autoridades públicas que fiscalizam a aplicação da legislação ambiental. Foi o Copernicus o responsável, por exemplo, por detectar uma diminuição na poluição do ar durante a pandemia do coronavírus. É importante saber também que o acesso a dados captados por Copernicus não é confinado a governos, e pode ser obtido de maneira livre por empresas e indivíduos pela internet.

Desde 1988, o governo brasileiro conduz, por meio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), programa de observação da Terra por meio de satélites, lançados e operados pelos EUA e pela China. Em 2018, o então Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e a Comissão Europeia fizeram um Acordo de Cooperação, para dar acesso mútuo sem custo às observações satelitárias realizadas pelos dois governos.

No mesmo ano, a Agência Espacial Brasileira (AEB), o Inpe e a Agência Espacial Europeia (ESA) firmaram um Arranjo de Cooperação Técnica para tratar de acesso brasileiro aos dados do Copernicus, em troca dos dados coletados pelo Inpe. Com vigência até 2024, este arranjo prevê que, no Brasil, o Inpe se torne um hub regional na América Latina para o acesso a dados do Copernicus.

“A cooperação internacional com o Copernicus enriquece os recursos para a observação da Terra disponíveis na nossa região, enquanto permite aos europeus o acesso às observações feitas por satélites monitorados pelo Inpe, beneficiando os dois parceiros. É importante reconhecer que Copernicus também trouxe investimento de aproximadamente 35% do custo da aquisição, por toda sua vida útil, estimado em 25 anos, de uma grande fração (9%) da capacidade inteira (72 Tb/s) do novo cabo EllaLink entre Brasil e Portugal, que entra em serviço em julho deste ano. Em troca, o Copernicus ganha um canal transatlântico de 100 Gb/s dedicado ao seu uso. A aliança entre infraestrutura de comunicação e seus grandes usuários de interesse público é um modelo atraente para financiar as novas redes de pesquisa e educação”, avalia o cientista de redes da RNP Michael Stanton.

Segundo informações do projeto BELLA, sem conectividade a uma Rede Nacional de Pesquisa e Educação, um profissional que atua em emergências climáticas na América Latina e mapeia uma região de 500 km2 poderia esperar 60 minutos para baixar dados críticos. Com a conclusão do BELLA em 2021, a conectividade de alta velocidade fornecerá os mesmos dados em apenas 7 minutos.

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