Qual a importância do propósito no planejamento?

Por Rodrigo Ribeiro, especialista em vendas no setor calçadista e parceiro da SetaDigital

Como o próprio mundo nos indica, a única certeza que temos é de que tudo à nossa volta uma hora vai mudar. Sendo assim, adequar-se às novas circunstâncias de mercado, tais como perfil de consumo, técnicas de gestão e estratégias de produtividade é uma condição de sobrevivência.

Destaque especial para um dos maiores desafios da atualidade: planejar a médio e longo prazos em um cenário flutuante. Parece impossível, mas, quando temos um propósito em nosso planejamento, o futuro imprevisível passa a ser um desafio a ser conquistado no presente.

O propósito é o alicerce que mantém o planejamento vivo em qualquer circunstância apresentada em todos os cenários de nossa vida. Durante muitos anos ouvíamos a seguinte frase: “Você precisa andar no trilho”! Esta expressão caiu por terra, devemos trilhar nosso caminho, nos moldando a todas as condições que são apresentadas em nosso cotidiano.

Devemos ter a clareza que um planejamento nasce para ser um guia, mas ele não pode se engessado, porém adaptado aos novos modelos mercadológicos que constantemente nascem e mudam em todos os locais do mundo. Quando temos um propósito forte, tendo a consciência que devemos trilhar um caminho permanente de mudanças, o planejamento será a base inicial, mas com adaptações em seu percurso para atingir o resultado final.

Gosto da simbologia do dia mundial das promessas. Isso mesmo: primeiro de janeiro. Todos nós fazemos promessas para o ano inteiro, que na maioria das vezes não dura mais do que simplesmente um ou dois meses. Sabe por quê? Falta propósito, que é a força que nos move em direção à realização de nossas metas. Do que adianta ter velocidade se você não tem direção?

Propósito é dar direção ao planejamento, com uma regularidade de conquistas que, mesmo parecendo morosas, são sólidas e com datas previamente definidas dentro de uma coerência possível de serem realizadas.

Sabemos que estamos trilhando pelos caminhos da incerteza e o propósito vai garantir a resiliência de seguir em frente, afinal de contas é de batalha que se vive a vida. Qual é o seu propósito de vida?

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A sabedoria do caipira – Por José Pio Martins

Em meados dos anos oitenta, fui secretário do Planejamento do município de Londrina, quando era prefeito o Dr. Wilson Moreira. O “velho”, como era chamado, tornou-se uma figura lendária na região. Mineiro, formado em Engenharia, empresário comercial, agricultor e pecuarista, era homem de moral irretocável e de grande sabedoria, apesar de ele mesmo se dizer um caipira.

Muitas ideias que hoje leio em autores norte-americanos, eu já tinha ouvido do Dr. Wilson. Lá em seu mundo de interior, longe dos holofotes e da fama, com sua fala mansa e modos simples, ele dizia coisas que, se tivessem sido publicadas, não ficariam nada a dever a certos gurus de administração.

Lembro que, quando um secretário começava a falar sobre a solução para algum problema, ele pegava uma folha, anotava quatro perguntas e dizia: “volte a seu gabinete, estude essas quatro perguntas e só retorne aqui quando tiver as respostas e suas justificativas”.

As perguntas eram:

a) Qual é concretamente o problema?

b) O que precisa ser feito?

c) Qual é o plano de ação?

d) Quanto vai custar?

As perguntas acima faziam parte do método de planejamento do “velho”, e elas dizem respeito ao foco da situação (qual é concretamente o problema), às decisões (o que precisa ser feito), às soluções (qual o plano de ação) e aos recursos (quanto vai custar). Muitos autores inventam frases rebuscadas para dizerem a mesma coisa. O Dr. Wilson era um estudioso e vivia ensinando a nós todos, seus secretários. Por onde andasse, ele tinha o hábito de ensinar, e dizia que sua frustração era não ser professor.

Os que falavam demais, ele costumava censurar dizendo: “Falatório comprido é bom para sessão de brainstorming. Mas frente a um problema específico, precisamos ter foco, ser objetivos e pragmáticos”. Quando alguém queria dar uma opinião, ele perguntava: “Você conhece esse problema ou, pelo menos, se dedicou a estudá-lo?”. Se a resposta fosse “não”, ele dispensava o palpite.

Falando sobre gestão para estudantes do ensino médio, abandonei os gurus estrangeiros de nomes pomposos e lhes contei a história do Dr. Wilson: um menino pobre e franzino, que se tornou empresário bem-sucedido e prefeito aplaudido. Falei das ideias e teorias dele, muitas das quais estão por aí, ditas por gurus como se fossem novas e revolucionárias.

alar ideias velhas e teorias antigas ditas por algum filósofo ou algum escriba do passado. Respaldados por terem nascido nos Estados Unidos – nação admirável quando se trata de ciência, tecnologia e sucesso empresarial –, eles nos oferecem livros fantásticos, mas também nos enfiam obras requentadas e de baixa qualidade.

Nós brasileiros muitas vezes agimos como colonizados mentais, não conseguimos fazer distinção entre pérolas e lixo, tomamos como novo e verdadeiro tudo o que vem do exterior e deixamos de valorizar coisas boas que temos por aqui. Uma das razões é que o Brasil – nação fantástica, mas recheada de pobreza e maus exemplos – dificulta a credibilidade dos nativos daqui.

O Dr. Wilson faleceu em 2008, aos 84 anos, e deixou um exemplo de sabedoria e de retidão moral. Para quem se autoproclamava um caipira, ele era, na verdade, um homem notável. Pena que suas ideias não tenham sido registradas em livro.

*José Pio Martins é economista e reitor da Universidade Positivo.

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